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DE MATEMÁTICA, OUTROS PROBLEMAS E OUTRAS SOLUÇÕES


Aqui, nos deparamos diariamente com uma variedade muito grande de problemas envolvendo o aprendizado da matemática. Começando por alunos que não gostam de estudar – ou não gostam de estudar Matemática -, simplesmente. Gente que não teve experiências satisfatórias nos primeiros anos de alfabetização. Alunos que, num dado momento da vida, por quaisquer motivos que sejam, desencantaram-se com a ciência dos números. Aqueles que possuem distúrbios que interferem no aprendizado de uma forma geral: dislexia, TDAH, acalculias etc. A própria Discalculia do Desenvolvimento... Muitas são as razões pelas quais o indivíduo não consegue – ou não consegue querer – aprender Matemática. Estamos sempre às voltas com situações em que calcular, pensar logicamente, fazer nexos entre vida cotidiana e números ou, simplesmente, resolver exercícios específicos apresentados pela escola, são tarefas aparentemente impossíveis para alunos das mais variadas faixas etárias. Mas, apesar de tantas diferenças nas causas dos problemas, há fatores que se mostram presentes na maioria dos casos.

Um deles é o fato de a matemática acadêmica parecer mais um jogo, uma brincadeira lógica, destituída de relação com a vida (e as experiências) das pessoas. Muitos jovens, tendo sido apresentados a situações problema, as quais entendem e as consideram perfeitamente contextuais, acabam por criar procedimentos completamente distintos daquilo que uma lógica mínima e simples apontaria como caminho de resolução para a questão proposta. São comuns casos em que crianças até aparecem com respostas – “intuídas” – que não conseguem relacionar com nenhum algoritmo ou equacionamento já ensinado. Quando são chamadas a explicar como chegaram ao resultado, não parecem dominar qualquer linguagem capaz de constituir um discurso argumentativo matemático que explique seu feito. Mais comum, ainda, são aqueles casos em que o aluno simplesmente para de pensar quando, sem sequer entender a situação problema, e parte para um procedimento qualquer de resolução. Faz contas, cria técnicas numéricas próprias, inventa equacionamentos, tudo destituído de qualquer relação com a questão proposta –esta enunciadaquase sempre, sem grandes dificuldades de entendimento, na sua própria língua materna. Os números, de repente, passam a não ter qualquer relação com o tema abordado.

Outra característica é a pressão emocional. Vinda dos pais, da escola e do próprio aluno, acaba fazendo com que alguém que ainda não conseguiu ser afetado positivamente, simplesmente direcione todas as suas energias emocionais para se sentir cobrado, acuado e, até, culpado. Quanto mais deseja entrar naquele mundo possível – pelo menos, é o que lhe garantem as demais pessoas -, mais confuso se sente, pois parece-lhe que as dificuldades nada mais são do que efeitos de negligência, descaso ou má intensão sua. E as coisas simplesmente não caminham. As pressões se somam, se articulam, e o educando se vê como o filho pródigo – este desconfiadíssimo de que não logrará, desta vez, o perdão paterno.

Há, também, aquela sensação (do aluno) de que não conseguirá entrar para o seleto rol dos “melhores”, que conseguem decifrar os enigmas dos cálculos e dos problemas associados. Pior ainda quando tal aluno tem um pai ou irmão “genial” em Matemática. O mundo fica empobrecido e muito triste a cada sensação desta natureza. Os interditos circunstanciais vão se transformando em elementos de autodesvalorização.

É por essas e (tantas) outras que o trabalho com o aluno que apresenta problemas com o aprendizado de Matemática deve ser, em nossa visão, acompanhado por questionamentos específicos, e endereçados à própria ciência dos números e suas afins. Sim! Permitir que o aprendiz passe de interrogado a interrogador. Quem são essas tais matemáticas? O que são elas? Caminhos de verdade? Descobertas de gente genial,e endereçadas para outros gênios? Ou saber humano como qualquer outro: ferramenta de sobrevivência, objeto estético oriundo da curiosidade e da criatividade humanas, invenção com data e local conhecidos, arte? A matemática pode ser – ou alguma outra coisa poderá ser – neutra? E onde é que sua aplicabilidade é algo inevitável? Será que pode ser usada sempre? Os números não mentem, mesmo?

Talvez, retirando, a partir de um inquérito desmistificador, o rótulo de ciência exata e neutra, consigamos fazer com que nossos alunos destituam a matemática de seu status régio e possam trata-la com mais naturalidade. E sem medo!Fazê-los perceber que o ser que inventou números, operações, expressões ou teoremas, também criou o tal poder. E, quem sabe, eles possam perceber que, por temerem poderes mais fortes, acabam por não desenvolver o seu próprio. Afinal, alguém já disse que saber é dominar um conhecimento. Será que não seria possível mostrar-lhes sua força – escondida e negada justamente pelo equívoco de acreditarem que o outro lado seja mais poderoso?

Talvez, seja possívelensinar - mais que tudo - a saber deixar de lado reverências e respeito exagerados. Afinal, não existiriam números sem humanos. Gente que os criasse, empregasse e lhes desse lar e valor. Já pensaram em mostrar aos alunos que eles são muito mais que números?

João Luiz Muzinatti

Junho de 2016

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